O fascismo, mesmo com outro nome, continua sendo fascismo.
O fascismo não é mais algo que surge apenas a partir de um homem usando roupa militar. Essa aberração social e política pode estar presente também nas falas e nas atitudes de uma mulher que aparenta ser, de alguma forma, progressista.
Matt Walsh é um comentarista político de extrema-direita, que se afirma orgulhosamente como fascista (!!!). Ele comemorou fervorosamente o retrocesso no direito ao aborto nos Estados Unidos, quando a Suprema Corte derrubou a decisão histórica de Roe vs. Wade. Ele também já fez uma centena de declarações de cunho explicitamente rascista e de ódio contra outras minorias. Ele não aparenta ter nenhuma vergonha em ser como é, em defender o que defende.
Recentemente, ele lançou um documentário atacando pessoas trans, defendendo de diferentes formas que a comunidade trans seja privada de direitos. Mais que isso, no documentário ele sugere que as pessoas transgênero deveriam deixar de existir. Deveriam ser eliminadas.
É de se imaginar que parte expressiva da sociedade tenha rejeitado o documentário produzido por Matt. Foi o que aconteceu na maior parte da imprensa estadunidense, canadense e europeia, que viu no documentário um panfleto de extrema-direita. Porém, um grupo específico gostou do que viu.
As feministas radicais (ou TERFs, no inglês), que aqui no Brasil se mostram tão indignadas com o uso da linguagem inclusiva e dos pronomes neutros (numa total sintonia com Damares Alves e demais bolsonaristas), se mostraram entusiasmadas com o filme que promove ódio contra a comunidade trans. Sua mais ilustre representante, J. K. Rowling, autora de Harry Potter, não titubeou em elogiar o doc e seu criador, o declarado fascista Matt Walsh.
Ou seja, não importa mais que ele seja fascista (e, consequentemente, racista, misógino, xenófobo, etc), pois ele é anti-trans, assim como elas. Portanto, estão todos no mesmo barco do retrocesso. O ódio os une.
O que a comunidade trans e queer tem internacionalmente denunciado vai ficando mais nítido e mais descortinado: o feminismo radical é uma vertente fascista, que se apropria de pautas progressistas para ir ganhando espaço dentro de alguns grupos e ir minando as lutas anti-opressões por dentro. As TERFs são reacionárias, empenhadas numa tentativa constante de querer restringir as concepções de gênero, obstinadas em eliminar (na linguagem e na política) a existência da pluralidade e da diversidade.
Precisamos nos atentar aos fascismos — que mesmo sob outros nomes e outras roupagens — continuam sendo fascismo.